Blog

Artigo: “Artrite reumatoide: os sinais e perigos da doença”

Ações corriqueiras como abrir uma porta, abotoar uma camisa e amarrar o cadarço do tênis podem ser muito limitantes em portadores da doença autoimune

A artrite reumatoide é uma doença que causa dor nas juntas, mas pode comprometer outros órgãos, como pulmão, olhos, coração e sistema nervoso.

A causa é desconhecida, portanto não tem cura ainda. Pessoas com predisposição genética, ou seja, com história familiar de AR, têm mais risco de desenvolver a doença. Fatores ambientais, hormonais e infecciosos podem contribuir para o aparecimento da AR. Por exemplo: tabagismo (ativo ou passivo); exposição a poluentes como a sílica; infecções por vírus ou bactérias são fatores que podem predispor à doença.

É uma doença autoimune, isto é, o sistema imunológico entende erradamente que as articulações ou os outros órgãos afetados não pertencem ao corpo e passa a agredi-los e destruí-los, gerando uma inflamação crônica. Isso pode resultar em deformidades articulares de forma leve, moderada, severa e mesmo incapacitante, determinando limitações importantes para as rotinas pessoal e de trabalho.

Ações corriqueiras do dia a dia como abrir uma porta, abotoar uma camisa e amarrar o cadarço do tênis podem ser muito limitantes.

No mundo existem 80 milhões de pessoas com AR e estima-se que 2 milhões de brasileiros sejam afetados pela doença. Pode ocorrer em qualquer idade ou gênero, mas é 3 vezes mais frequente em mulheres entre 30-50 anos. Quando ocorre em crianças até os 16 anos é chamada de artrite idiopática juvenil.

O diagnóstico da AR baseia-se em critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos. A história clínica e o exame físico são fundamentais: dor e inchaço nas juntas pequenas (artrite), principalmente das mãos e dos pés em ambos os lados do corpo (simétrica), rigidez e dificuldade para movimentar-se pela manhã que pode durar horas até melhorar (rigidez matinal).

Os exames complementares de laboratório ajudam a detectar a inflamação através da dosagem da PCR (Proteína C Reativa) e a verificar o comprometimento imunológico através da pesquisa dos auto-anticorpos Fator Reumatóide (FR) e anticorpo-antipeptídeo citrulinado cíclico (anti-CCP). A PCR e o FR não são específicos para a Artrite Reumatóide, já o anti-CCP tem 95% de especificidade para o diagnóstico da AR. Exames de imagem (raio-x simples, ultrassonografia, ressonância magnética) são muito úteis tanto para o diagnóstico como para o acompanhamento da doença.

Então: artrite simétrica há mais de 3 meses com rigidez matinal superior a 1h; presença no sangue do FATOR REUMATOIDE e/ou do anticorpo anti-CCP e imagens mostrando lesões características, sugerem fortemente o diagnóstico de artrite reumatoide.

O tratamento objetiva conter a auto agressão ao sistema imunológico, controlando a inflamação e suas consequências sobre as articulações e outros órgãos. Os medicamentos utilizados são da família dos imunossupressores que, em doses mais baixas, funcionam como “reguladores” do sistema imunológico. Nas últimas 3 décadas, com a chegada dos imunobiológicos, muito se avançou no controle da doença e prevenção das sequelas. Esses são medicamentos produzidos por engenharia genética que atuam em locais específicos do sistema imunológico que conhecidamente são focos produtores de inflamação. São medicamentos aplicados por via venosa, via subcutânea e via oral em uso contínuo. Esse tratamento deve ser feito por médico reumatologista e o uso dos imunobiológicos deve ser em um Centro de Terapia Assistida, preferencialmente específico para pacientes reumáticos.

Se AR está em remissão por um período longo, tem sido possível reduzir e até suspender o tratamento. Essa decisão é compartilhada entre o médico reumatologista e o paciente.

Há relato de que menos de 50% dos pacientes procura assistência médica. A maioria ainda opta por automedicação ou por adiar o tratamento. Quanto mais precoce for o diagnóstico e o tratamento da AR, melhor o controle da doença. No entanto, em qualquer momento que seja feito o diagnóstico, vale a pena empenhar-se no tratamento. Em qualquer hipótese o paciente tende a ganhar qualidade de vida com menos dor e mais funcionalidade articular. Vale ficar atento a alguns sinais e recomendações:

  • Gravidez? Permitida, preferencialmente programada. Os sintomas costumam melhorar durante a gestação.
  • Transmite para os filhos? Existe uma predisposição genética entre pessoas da mesma família.
  • Alimentação específica? Não há evidências científicas, no entanto, uma alimentação saudável é recomendável.
  • Atividade física? Altamente recomendada.

Artigo produzido pela reumatologista Catarina Vila, CRM 7960-DF.